Bem vindo

Aqui vais encontrar "o melhor das minhas veias" sob a forma de Sonetos.
A lista aqui ao lado , numerada e ordenada para facilitar a leitura, estará em constante crescimento "na louca esperança que tu leias".
Alguns Sonetos têm associado um pequeno video ou um slide show e estão assinalados.
Os Sonetos que aparecem na página inicial foram os últimos a serem colocados, por isso aconselho a começares pelo primeiro(ver lista).
Aprecia, comenta e se possível devolve-me um sorriso para silveriocalcada@gmail.com

LXXI Recordar



Não sei como consigo recordar-me
de coisas que não fiz e só sonhei.
Não foi por culpa minha, eu bem tentei
mas sempre resististe ao meu charme.

Relembro a brancura do teu peito
(mil vezes foi por mim imaginado),
mamilo entumecido e rosado,
que quero para mim, mas nada feito.

O gosto misturado com o cheiro
não sei bem qual dos dois sinto primeiro
se chego o teu corpo ao pé do meu.

Memória que tão rápido se esfuma,
rebenta como bolas de espuma,
saudade do que nunca aconteceu.

LXX Marioneta


É fácil, muito fácil, já vais ver.
Segura, curiosa, neste fio,
aceita de bom grado o desafio,
no fim não te irás arrepender.

Agora mais um fio e outro ainda.
Não é complicado nem ciência,
precisas de destreza e paciência,
um pouco de balanço, minha linda.

Dedilha alternados, sem razão
os fios que tu prendes com a mão
e olha para as pontas lá em baixo.

Vais ver-me atarantado, um pateta,
boneco, hoje sou marioneta
que dança ao teu gosto. Que diacho!!!

LXIX Sombra


Não somos nem Romeu, nem Julieta.
Não sou nenhum Tristão, nem tu Isolda.
Tu és uma mentira que se molda
em volta duma mente inquieta.

Apertas-me, até me falta o ar.
Enrolas-me, jibóia decidida.
Tu és um adesivo numa ferida
que dói mesmo arrancando devagar.

Eu fujo, mais que corro, não me afasto.
Tu segues-me, farejas o meu rasto,
tu és alma penada que me assombra.

Desisto de correr, abrando o passo
cansado não resisto ao teu abraço.
Estás mais junto a mim que a própria sombra.


LXVIII Morcão



Estou aqui parado nesta esquina
a ver fugir a vida à minha frente.
E fico assim quieto indiferente
deixando de escrever a própria sina.

Caí nos braços fofos da moleza,
em sono bafiento, entorpecido.
Drogado eu não tenho nem querido
saber porque o sono assim me pesa.

Acorda, meu morcão que já é tarde,
depressa que o futuro já te arde
no fogo distraído do presente.

Agarra a pouca vida que te falta
e goza, esperneia, vai e salta
por cima dessa cisma que te mente.

LXVII Trunfo Escondido


O Verso vem aí, vem de rompante.
É pena que não traga a Poesia…
Com ela e o Verso juntos poderia
fazer alguma coisa interessante.

Apenas vem o Verso rigoroso
Que conta as palavras, uma a uma,
as sílabas, não vá faltar alguma.
As tónicas no sítio dão-lhe gozo.

E fico agarrado nesta métrica
que deixa escapar em liberdade
apenas alguns gritos de Ipiranga.

Que raio de escrita mais patética!
Transforma, com palavras, a verdade
em trunfo escondido numa manga.

LXVI Sussurro



Eu tenho o coração ao pé da boca
mas esta está muda, bem fechada.
Covarde, com vergonha não diz nada.
Garganta do aperto fica rouca.

Engulo a palavra, impotente,
estranho a minha língua de tão seca.
A minha fluência fica peca,
a graça habitual não mais se sente.

Não falo mas escrevo com fartura
tentando mitigar esta secura
que tu não compreendes nem que tentes.

Se perto me chegares o teu ouvido
quem sabe, de repente, eu consigo
deixar sair teu nome entre os dentes.

LXV Abrenúncio


Oh! Baby, rebentaste-me o prepúcio
que sangra como virgem violada.
Um golpe tão pequeno quase nada
mas dói como o caraças, abrenúncio!

Agora queres sarar-me a ferida.
Não podes nem tocar-lhe, afagá-la,
perdeste até o jeito e a fala
e, muda, olhas para mim arrependida.

Embrulhas-me tão meiga com um lenço,
eu fico agradecido e só penso:
- Que pena isto ter acontecido.

Não fosse o teu cio tresloucado
iríamos passar um bom bocado…
… mas eu estou aqui todo encolhido.