Bem vindo

Aqui vais encontrar "o melhor das minhas veias" sob a forma de Sonetos.
A lista aqui ao lado , numerada e ordenada para facilitar a leitura, estará em constante crescimento "na louca esperança que tu leias".
Alguns Sonetos têm associado um pequeno video ou um slide show e estão assinalados.
Os Sonetos que aparecem na página inicial foram os últimos a serem colocados, por isso aconselho a começares pelo primeiro(ver lista).
Aprecia, comenta e se possível devolve-me um sorriso para silveriocalcada@gmail.com

XCV Pecaste?



Pergunta-me o padre tão solícito
detrás daquela rede protectora:
– Pecaste? Se assim for confessa agora
que eu perdoarei qualquer ilícito.

Meu filho pensa bem vai ao teu fundo,
diz lá se o que fizeste, sem vergonha.
Pecado é pior do que peçonha
é algo que te mancha e põe imundo.

Pecaste por palavras ou acções?
Eu faço um exame interior
e fico pensativo por momentos.

Desculpe padre eu peço mil perdões.
Mas juro! Eu fiz tudo por amor.
Pecados? Só se foi em pensamentos.

XCIV A Cigarra e a Formiga




Ouvi pela vida fora mil conselhos,
provérbios, lengalengas, adivinhas.
Histórias que por entre as suas linhas
transmitem a experiência dos mais velhos.

Algumas escutei maravilhado,
mas sem me aperceber do conteúdo,
sem ver que afinal, no fim de tudo,
há sempre uma lição, ou um recado.

Agora que o Inverno se aproxima
eu deixo um conselho nesta rima,
lição de uma história muito antiga.

Não cheguem como eu à conclusão
que nunca escutei com atenção
o Conto da Cigarra e a Formiga.

XCIII A Idade dos "porquês?"



Voltei, ao fim de todos estes anos,
de novo à idade dos “porquês?”
Perguntas que eu faço, mas não lês,
assim como não vês meus desenganos.

Demando a razão de um novo dia,
procuro pelo riso que não rio,
encontro este cansaço, este fastio
estranho o eclipsar da poesia.

Tacteio a confusão à minha volta,
na boca abafo um grito de revolta
encaro a solidão que me arrosta.

Não tenho soluções por mais que tente
e vejo aumentar à minha frente
a lista das perguntas sem resposta.

XCII Homenagem à Breitling Jet Team



J’essaie de vous faire un sonnet
Que chante la surprise, l’émotion,
Qu’on sent toujours qu’on voit vos avions
Gratter le bleu du ciel en blanche fumée.

Ce sont des manœuvres si extrêmes
Le Boucle, la Bombe, la Barrique
(L’Éclatement Final c’est fantastique).
Enfin, vous écrivez un beau poème.

Et moi ici, les pieds collés au sol,
Je cherche dans ma tête les paroles
Pour faire un cadeau pour vous offrir.

Vous dessinez le ciel en arabesques
J’écris en mots que sont presque grotesques
Ma vraie amitié et un sourire.

XCI Ó Morte, que me assombras a espaços



Ó Morte, que me assombras a espaços,
que fazes mais escuro o meu caminho,
escusas de andar devagarinho.
Na mesma eu escuto os teus passos.

Ó Morte, que te escondes disfarçada
atrás de qualquer página da vida,
eu sei que me persegues decidida,
eu sei que não desistes nem por nada.

Ó Morte só te peço angustiado
que seja muito breve, apressado,
o teu fatal e gélido abraço.

Ó Morte dá-me apenas um momento.
Despeço-me da vida num lamento,
depois eu me encolho em teu regaço.

XC Adoro esse teu travo agridoce



Adoro esse teu travo agridoce,
mistura tão exótica, gourmet.
Nem mesmo sei dizer bem o porquê
dum gosto que nasceu em mim precoce.

Canela com gengibre ou hortelã,
gelado de pistachio e chocolate,
as gotas de limão no abacate,
o doce e o azedo da romã.

O doce é dos teus lábios sumarentos,
da boca entreaberta por momentos
da língua, da saliva açucaradas.

O acre vem do fundo que me tenta,
da carne tentadora, suculenta
das gotas do teu corpo mais salgadas.

LXXXIX Esquece essa ruga prematura



Esquece essa ruga prematura,
a cor que esmorece os teus cabelos,
os dentes cada vez mais amarelos
e olha para ti com mais ternura.

Esquece o teu corpo já flácido
e esse teu andar periclitante.
Repara mais em ti por um instante
mas sem esse azedume, esse ácido.

Encara o espelho sem temor.
A vida, com mais dor ou menos dor,
moldou desta maneira o teu ser.

Se achas que a Vida foi injusta,
se essa tua imagem te assusta,
vais ver o que a Morte vai fazer.

LXXXVIII A mim não me incomoda a idade



A mim não me incomoda a idade.
Estou cada vez mais experiente,
mais sábio e quiçá inteligente,
mais solto, mais liberto, à vontade.

A mim não me assusta o futuro
(já venho atrás dele do passado)
e vivo o presente descansado.
Por isso ainda hoje me aventuro.

Não fujo da surpresa da paixão,
adoro essa doce comichão
que sinto cada vez que me apaixono.

Eu finjo que me entrego, me ofereço
mas minha liberdade não tem preço.
Sou livre, sem amarras e sem dono.